Essa pergunta veio à tona após a denúncia de censura no programa Altas Horas,
da Rede Globo, feita pela jornalista maranhense Letycia Oliveira ao
Portal Vermelho. Ela conta que foi convidada pelo programa para contar
como superou a sua história de violência doméstica. As pesquisas indicam
que a maioria das mulheres brasileiras já sofreram esse tipo de
agressão.
A jornalista diz também que a produção ligou para ela dizendo que a
entrevista não iria mais para o ar, por questões de segurança dela e da
filha. “Eles não tinham noção de quão forte seria aquele depoimento, e
mais, que aquilo poderia chocar mais do que as novelas”, diz.
Quando “um garoto do auditório me fez uma pergunta, a ‘clássica’, ‘por
que a mulher volta pro agressor?’. Eu respondi que a mulher está só,
muitas vezes depressiva, com a estima arrasada, e ama o agressor, ele
pede desculpa, diz que vai mudar e você volta, e apanha de novo”.
Letycia Oliveira no programa Altas Horas (Reprodução)
Praticamente as mesmas respostas dadas pela estudante de jornalismo
Natália Belizário no site do Geledés. “Não podemos esquecer que
relacionamentos abusivos não são marcados somente por violência física,
mas também por violência psicológica”, afirma.
A secretária da Mulher Trabalhadora da Central dos Trabalhadores e
Trabalhadoras do Brasil (CTB), Ivânia Pereira, confirma o que elas
dizem. “Vivemos numa sociedade onde quase tudo é proibido à mulher,
inclusive trazer à tona a sua vida doméstica”.
Além disso, afirma a sindicalista, “em muitos casos a mulher sente medo e
vergonha de denunciar o agressor”. Pereira diz ainda que a violência de
gênero vinha sendo combatida de forma tenaz nos governos Lula e Dilma,
“mas agora nos assombram retrocessos enormes”.
"É fundamental superar a cultura machista e conservadora, não apenas por
parte dos juristas e legisladores. Há que se respeitar as conquistas
democráticas e assim contribuirmos com a cultura do respeito e de uma
educação libertária. A sociedade mudou, mas precisa se humaniza cada vez
mais", afirma Ailma Maria de Oliveira, presidenta da CTB-GO.
Para Érika Pistere, secretária da Mulher da CTB-ES, ressalta a
importância da aprovação da Lei Maria da Penha e da Lei do Feminicídio
como formas de punir o agressor, mas ressalva a “falta de mais
delegacias da Mulher, que elas funcionem 24 horas, em todos os dias da
semana”.
Além disso, Piteres acredita na necessidade de se “trabalhar melhor as
políticas públicas que facilitem a denúncia da violência e também se
faça um trabalho de recuperação da autoestima das agredidas. E ainda as
proteja”.
A colocação da sindicalista capixaba é confirmada pela história contada
poro Kaique Dalapola no site ponte.org, onde ele relata a denúncia de
uma jovem que foi assediada no cinema de um shopping em Recife e se viu
obrigada a registrar a ocorrência com homens, sendo desrespeitada e
aconselhada a desistir.
Já Piteres lembra da recente pesquisa do ActionAid Brasil, pela qual 87%
das brasileiras relatam já terem sofrido assédio sexual na rua, no
transporte público, no trabalho, entre outros locais.