Uma Igreja
marcada pelo carreirismo, pela rigidez moral e sem mulheres em seus postos de
comando não deve sofrer mudanças significativas tão cedo. A socióloga Maria
José Rosado, professora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
(PUC-SP) e presidente da ONG Católicas pelo Direito de Decidir, vê na renúncia
de Bento XVI – que deixou o comando da Igreja Católica às 20h (16h no horário
de Brasília) da última quinta-feira (28) –, uma exposição de todas as crises
enfrentadas nos últimos anos, e acredita que os pedidos de renovação feitos
pelo Papa em seus últimos discursos são mais no sentido de reafirmação das
doutrinas conservadoras do que de uma mudança efetiva.
A ONG que
preside – parte de uma rede latino-americana que também laços na Europa –
defende uma Igreja mais democrática, inclusiva, horizontal, com influência das
comunidades locais e menos carreirismo, voltada para a justiça social e aberta
às mudanças do mundo, sintonizada com os problemas contemporâneos. Mais do que
isso, pede uma participação e atenção especial às mulheres, tanto em políticas
que permitam a aceitação dos avanços em relação à sexualidade e reprodução,
quanto permitindo que elas entrem em postos de comando, tendo voz e vez na
elaboração da doutrina da Igreja.
“É um
momento crítico para a Igreja, é uma crise que vem de muitos lados, tem muitas
faces. A renúncia do Papa é a exposição dessa crise, o ápice dela”, diz a
socióloga. Além dos escândalos que atingem postos de comando da Igreja –
denúncias de pedofilia, omissão da alta hierarquia, corrupção, problemas no
Banco do Vaticano – há a perda de fiéis. Algo que a socióloga vê como uma
consequência da modernização da sociedade, cada vez menos sacralizada.
“Essa
possibilidade de múltiplas religiões, e a aceitação social que a pessoa
pertença a qualquer religião ou mesmo não a tenha, é uma possibilidade real,
que vem ganhando a cultura. Essa é a grande dificuldade de uma Igreja que foi
durante séculos detentora do poder, e que se vê cada vez mais próxima de se
tornar apenas uma entre as outras.”
Ela diz que a Igreja também vem enfrentando perda de
fiéis nas classes mais intelectualizadas, que acabam reagindo de forma mais
intensa a posições defendidas pela religião.
“Onde a Igreja perdeu mais fiéis, na Europa, nos EUA, a
perda foi enorme. Essa perda devido às posições arcaicas e medievais da Igreja
diz algo para as classes intelectualizadas, que são muito importantes do ponto
de vista financeiro e também da renovação de quadros”, explica a socióloga.
Segundo ela, esse “abandono” de parte das classes mais
intelectualizadas reflete na constituição dos agentes religiosos. “Não se
comparam os quadros de bispos que havia na época da Teologia da Libertação com
os que temos hoje.”
Apesar
de todos os problemas indicarem uma real necessidade de mudanças estruturais,
Maria José vê uma manutenção do status atual – em sua maior parte porque, como
muito se falou desde o anúncio da renúncia, os cardeais que elegerão o novo
Papa foram apontados pelo próprio Bento XVI ou por João Paulo II, de quem o
atual Papa deu continuidade à forma de liderar a Igreja.
“As indicações que se têm são muito mais no sentido da
manutenção e aprofundamento do governo conservador do que para a renovação”,
diz a professora. “Não há nenhuma indicação de que haverá uma abertura na
questão da moral sexual. A realidade é que a humanidade tem diversas
possibilidades em relação à sexualidade. A correlação entre a estrutura da
organização e o que ela faz no campo da moral sexual é imediata. Ela só
demonstraria uma mudança se alterar a estrutura. Sem mulheres, isso não vai
acontecer. Os homens que estão lá são muito menos pastores e muito mais
carreiristas.”
Fonte: G1.globo.com.
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